quarta-feira, 2 de junho de 2010

MENSAGENS DO REITOR-MOR NO BOLETIM SALESIANO


Junho : O CHAMADO

Se Ele te chama, jamais encontrarás repouso (Charles Péguy).

“Subiu à montanha e chamou os que ele quis, e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e pudesse enviá-los a pregar com o poder de expulsar os demônios" (Mc 3,13-15). O que é dito pelo evangelista Marcos, aparece nos quatro evangelhos como uma das primeiras ações de Jesus no início da sua vida pública. Isso indica que a "Boa Nova" é inseparável de uma comunidade na qual, como num duplo movimento de sístole/diástole, os discípulos convivem com Jesus e participam da sua missão. À base do discipulado e da sequela, encontramos sempre um encontro pessoal com Ele, encontro que transforma a vida. Em certos casos, Jesus chama enquanto trabalham: "Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André seu irmão que lançavam as redes. De fato, eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Segui-me e farei de vós pescadores de homens" (Mc 1,16-18). Seguiram-no prontamente. O mesmo aconteceu com Tiago e João (ib, vv. 19-20). Mateus, por sua vez, recebe o chamado enquanto está a coletar impostos (Mt 9,9). Encontramos na escolha dos discípulos um "critério" do agir de Deus: os seus pensamentos não são os nossos pensamentos (cf. Is 55,8). É uma constante também no AT, por exemplo, na escolha de Davi para rei de Israel: "O homem vê as aparências, mas Iahvé vê o coração" (1Sm 16,7). O mesmo acontece com Abraão, ancião e sem filhos, com Moisés, velho e balbuciante, com Jeremias, jovem e inexperiente... com Maria.

Os textos evangélicos sublinham a diversidade dos tipos escolhidos. Alguns são pescadores, a começar de Cefas, que Jesus rebatiza como Pedro, seu irmão André e os filhos de Zebedeu. Mas há também um publicano, Mateus-Levi com alguns que pertencem ao grupo dos seus inimigos acérrimos, como Simão "Zelotes" (Lc 6,5), e Natanael, que desprezava os galileus (Jo 1,45s). Difícil encontrar um grupo mais heterogêneo. Seria possível aplicar aos doze a frase de Paulo aos Coríntios: "Considerai a vossa vocação, irmãos; entre vós não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres" (1Cor 1,26). No caso de Simão Pedro, Lucas sublinha a 'pobreza' daquele que estará à frente do grupo apostólico, indicando que ele falha justamente no seu ofício de pescador (cf. Lc 5,4-10). Recordando a frase de Marcos, o discipulado implica essencialmente a convivência com Jesus, a crescente familiaridade e amizade com ele e a participação na sua missão: o anúncio do Reino de Deus, acompanhado pelos "sinais" que o autenticam.

O que implica esse discipulado em relação à questão colocada muitas vezes sobre Jesus: "Quem é este homem?". Tradicionalmente, se considerava a sequela de Jesus em chave moral e espiritual. Hoje, porém, recuperou-se todo o seu peso bíblico e teológico. À primeira vista, pareceria que Jesus se comportasse como um dos muitos rabis. Mas são grandes as diferenças. Ninguém, por exemplo, pode pedir para se aceito entre os discípulos: "Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi" (Jo 15,16). Seguir Jesus também significa deixar tudo: bens, profissão, família... Só Deus pode exigir que se vá além dos vínculos humanos mais sagrados: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim" (Mt 10,37-38). Pode-se estabelecer uma relação de semelhança com o evento que acabamos de celebrar como Família Salesiana: o 150º aniversário de fundação da Congregação. Dom Bosco convocou um grupo de jovens colaboradores para que "ficassem com ele" e compartilhassem a missão que Deus lhe confiara: a salvação da juventude pobre e abandonada. Àquele pequeno punhado poder-se-ia aplicar as mesmas palavras de S. Paulo aos Coríntios: humanamente falando, não havia qualquer perspectiva de futuro, bastando pensar que o diretor espiritual da Pia Sociedade era um jovem de 22 anos, Miguel Rua! "Eram todos juveníssimos e tratava-se de jogar toda a vida num único lance: na confiança em Dom Bosco". Alguns estavam desconcertados. Escreve o padre Lemoyne: "Mais de um deles disse a baixa voz: Dom Bosco quer fazer frades de todos!" (ACG 404,10). A resposta do jovem Cagliero: "Frade ou não frade, sempre com Dom Bosco!", evoca a resposta de Pedro a Jesus: "Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68). É a Jesus Cristo que Cagliero entende entregar toda a sua vida, assim como todos os outros; Dom Bosco, porém, é para eles uma mediação concreta e insubstituível da vontade de Deus e da missão que lhes quer confiar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário