sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A VIDA CONSAGRADA


O Concílio Vaticano II promoveu uma grande transformação na vida da Igreja. Com muita clareza constatamos isso nos documentos analisados nos meses anteriores, especialmente nas constituições sobre a liturgia, a Sagrada Escritura, a missão e a constituição da Igreja. A vida consagrada, como elemento essencial do Cristianismo, não podia ser diferente. No decreto Perfectae caritatis (PC) poderemos ver as preciosas orientações dos padres conciliares para «a conveniente renovação da vida religiosa».

Existem inúmeras formas de vida consagrada na Igreja, tais como a vida monástica, os eremitas, a vida religiosa apostólica, os institutos seculares e as novas comunidades, mas todas se caracterizam por viverem mais intensamente os conselhos evangélicos, através de um voto público, um compromisso concreto.

O grau de seguimento e cumprimento destes conselhos evangélicos variam de instituto para instituto, mas basicamente concretiza-se na profissão dos votos de pobreza, obediência e castidade. No n.º 574 do Catecismo da Igreja lemos que «o estado da vida consagrada aparece como uma das maneiras de conhecer uma consagração "mais íntima", que se radica no Batismo e se dedica totalmente a Deus. Na vida consagrada, os fiéis de Cristo propõem-se, sob a moção do Espírito Santo, seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus amado acima de tudo e, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, significar e anunciar na Igreja a glória do mundo futuro.»

Os religiosos, que podem ser leigos ou clérigos, revelam o rosto e o amor de Deus no seu dia-a-dia, nas suas variadas atividades, na sua oração e no seu testemunho de vida. O Concílio Vaticano II reconhece a riqueza deste modo de vida e o seu papel fundamental na difusão da mensagem cristã no mundo e na construção do Reino (cf. PC, n.º 25). Através do decreto conciliar, procura animar e renovar os diversos institutos e as suas ações apostólicas a fim de darem uma resposta sempre mais adequada às exigências de cada tempo e lugar.

Necessidade de mudança

Antes de começar o Concílio, foram enviadas 558 propostas sobre o tema da vida consagrada a Roma. Uma comissão preparatória encarregou-se de selecioná-las e redigir um texto inicial. Dos 202 parágrafos, restaram apenas 52, longamente discutidos em assembléia, com cerca de 14 mil sugestões. Isso é o reflexo de uma necessidade de renovação da vida religiosa, em muitos aspectos obsoleta e distante das reais necessidades do povo cristão. O texto final apresenta 25 parágrafos e foi aprovado no dia 28 de Outubro de 1965, com 2321 votos a favor e 4 contra.

O «Proêmio» apresenta os motivos desta urgente renovação: «Quanto mais fervorosamente se unirem, portanto, a Cristo por uma doação que abraça a vida inteira, tanto mais rica será a sua vida para a Igreja e mais fecundo o seu apostolado» (PC n.º 1).

Afirma que todos os consagrados, nas diversas formas e presentes ao longo de toda a história do cristianismo, são movidos pelo Espírito Santo e devem ser testemunhas de Cristo e do Seu Evangelho.

Logo a seguir entra no tema da renovação, apresentando os seus princípios (n.º 2), os critérios (n.º 3) e os agentes (n.º 4). Destacam-se as orientações para se voltar às origens da vida cristã e à genuína inspiração dos fundadores e institutos, porém sempre adaptando-as às novas condições dos tempos. Popularizou-se o termo "fidelidade criativa", que significa exatamente a inculturação e atualização (adaptar o modo de viver, orar e trabalhar às exigências da cultura, situação social e econômica e condições de cada membro), mas sem desvirtuar o espírito dos fundadores e o sentido de ser da vida consagrada: seguir mais de perto Jesus Cristo. O Concílio exorta também os religiosos a serem fiéis à sua missão específica, dando sentido à causa pela qual nasceram, pois cada instituto religioso surge para responder a uma necessidade específica da Igreja e do povo. Surgem para atender a uma carência e ser a presença de Cristo naquela realidade específica: educação, auxílio aos doentes, missões, comunicação social, etc.

No n.º 5 temos o elemento comum de todas as formas da vida religiosa: «renunciando ao mundo, viverem exclusivamente para Deus». Para tal é preciso saber conciliar a contemplação com o amor apostólico, dando primazia à vida espiritual (n.º 6). Os nos 7-11 recordam a especificidade de cada modo de viver a consagração: vida apostólica, vida conventual, vida laical, institutos seculares.

Os votos feitos pelos religiosos é o tema abordado a seguir. Diante da sociedade contemporânea, que difunde e exalta uma série de contra-valores, a vivência dos conselhos evangélicos através dos votos públicos assume um desafio ainda maior e por isso mais louvável. Os que assumem a vida religiosa devem ser animados e reconhecidos como exemplo de vida. Segundo dados da Conferência Episcopal Portuguesa, os religiosos em Portugal são cerca de sete mil (1052 padres, 327 irmãos e 5717 irmãs), mas este número cai a cada ano. A falta de vocações é provavelmente o maior desafio da vida consagrada hoje.

Mas voltemos à Perfectae caritatis. O seu parágrafo 12 trata da castidade, provavelmente o elemento mais polêmico e incompreendido da vida consagrada. Viver a castidade significa viver a sexualidade segundo os princípios da fé e é uma virtude exigida de todos os batizados. Para os religiosos, a castidade, através do celibato, visa ter um coração indiviso para Deus e viver intensamente o amor fraterno e a caridade. Não é uma negação da sexualidade e do casamento, mas a procura de uma doação total a Deus e à missão.

Irmão Darlei Zanon

fonte: Revista Família Cristã, sessão catequese(Portugal)

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