quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MENSAGENS DO REITOR-MOR NO BOLETIM SALESIANO

DEZEMBRO:O TRIUNFO INAUDITO

Sem ti, ó Cristo, nascemos somente para morrer; contigo, morremos somente para renascer (Miguel de Unamuno).
 Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé (1Cor 15,14). Sem dúvida, a ressurreição é o centro da fé cristã. Contudo, a vida dos crentes nem sempre reflete esta convicção. Baste pensar na escassez de imagens de Cristo ressuscitado em relação àquelas que o representam na cruz. Para compreender a ressurreição, é preciso, paradoxalmente, levar a sua morte a sério. Ao longo dos séculos, correntes de pensamento minimizaram a morte de Jesus, impedindo que se entendesse adequadamente a sua ressurreição. Para o povo de Israel, a morte do rabi da Galileia na cruz significava que Deus não estava da sua parte, não confirmava a sua pretensão messiânica e menos ainda a sua pretensa filiação divina. Assim, em relação aos discípulos que o viram ressuscitado falou-se de alucinação ou simplesmente que viram aquilo que esperavam ver. Dois elementos brotam das narrações evangélicas: primeiramente, que a descoberta do túmulo vazio não leva a suspeitar que aquele que ali fora sepultado tenha ressuscitado; explica, porém, a grande dificuldade dos discípulos de aceitarem que aquele que eles veem vivo seja realmente Jesus. Falamos de uma realidade que supera totalmente a nossa experiência humana. Aquilo que as narrações do Novo Testamento nos deixam entrever pode ser assim resumido: Jesus ressuscitado é o mesmo que viveu com eles e morreu na cruz, mas não é igual. A sua identidade pessoal é total: ele conserva os sinais da sua morte na cruz, como é manifestado no seu encontro com o incrédulo Tomé: "Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos; estende a tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20,27).
 No mesmo texto encontramos a relação entre o testemunho dos discípulos e a fé de quem, como nós, crê nele sem ter visto: "Bem-aventurados os que não viram, e creram!" (Jo 20,29). Parece-me significativo que nenhuma narração do Novo Testamento apresente uma aparição de Jesus ressuscitado a sua mãe: é a única pessoa para quem a morte do Filho não é uma ruptura da própria fé e confiança nele e no Pai. O que significa, hoje, crer na ressurreição de Jesus? No texto citado (1Cor 15), descobrimos que o Apóstolo não baseia a nossa ressurreição na do Senhor, mas em duas ocasiões ele afirma: "Se não há ressurreição dos morte, nem mesmo Cristo ressuscitou!"; "Se os mortos não ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou" (1Cor 15,13.16). Com a ressurreição, Jesus não retorna ao passado, à sua vida divina da "pré-encarnação", mas dá um definitivo passo adiante. Em Jesus ressuscitado encontramos seja a plenitude da sua encarnação seja a plenitude da condição humana. Ele assume para sempre a nossa humanidade. É Jesus ressuscitado que chama os discípulos pela primeira vez de "irmãos" (Mt 28,10; Jo 20,17). A partir desse momento, os apóstolos consagram toda a sua vida à pregação, a anunciar "a verdade sobre Deus e a verdade sobre o homem". O anúncio da ressurreição do crucificado é a "Notícia Nova", a melhor que um ser humano possa receber. O Novo Testamento diz-nos qual é o testemunho autêntico da ressurreição. "Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus... E entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro... aos pés dos apóstolos; depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um" (At 4,33-35). Não pode existir um contexto melhor para falar do testemunho da ressurreição do que aquele que apresenta a mudança de vida do crente, o amor fraterno, a plena partilha: "Vede como eles se amam!", exclamavam admirados os pagãos.
Dom Bosco compreendeu-o perfeitamente. Toda a sua vida e todo o seu trabalho em favor dos jovens tem como núcleo uma "espiritualidade pascal": a alegria que constitui a essência do sistema preventivo e a chave da santidade juvenil não é a alegria ingênua ou inconsciente de quem "ainda" não conhece as dificuldades da vida, mas a de quem "traz os sinais da cruz", mas está convencido, ao mesmo tempo, de que ninguém e nada o poderão separar do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus (cf. Rm 8,39). Assim também a preocupação de Dom Bosco pela otimização do ambiente do Oratório, a "ecologia educativa" indispensável ao nosso carisma, procura recriar no ambiente juvenil e popular de Valdocco, a experiência da primeira comunidade cristã e, com isso, chegar a ser o autêntico testemunho da vida nova do Ressuscitado. Recordemos que no realizar "hoje nossa missão, a experiência de Valdocco continua critério permanente de discernimento e renovação de cada atividade e obra" (Const. 40). Queira Deus que, como Família Salesiana, possamos sempre e em todos os lugares ser testemunhas autênticas da Ressurreição

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