1. Os religiosos, tocados pelo Senhor que os chama para uma vida de intimidade e de missão, se consagram ao Senhor através do voto de castidade perfeita e os sacerdotes assumem o compromisso do celibato. O tema da virgindade consagrada e do celibato é extremamente delicado no acompanhamento vocacional de candidatos para uma vida de consagração a Deus e para o sacerdócio ministerial. Os que acompanham os candidatos para os votos e para a ordenação sacerdotal encontram não poucas dificuldades.
2. A sexualidade é uma força violenta que sacode a todos. Nossos tempos são marcados por um grande erotismo e toda reflexão sobre castidade cristã e consagração virginal parece fora de lugar. Os tempos modernos dizem que é preciso aproveitar a vida, também e principalmente viver intensamente a sexualidade.
3. Vita consecrata, exortação apostólica sobre a vida consagrada e sua missão na Igreja no mundo, assim fala da castidade: “A castidade dos celibatários e das virgens, enquanto manifestação da entrega a Deus com um coração indiviso, constitui um reflexo do amor infinito que une as três pessoas divinas na profundidade misteriosa da vida trinitária; amor testemunhado pelo Verbo encarnado até dom da própria vida, amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que incita a uma resposta de amor total a Deus e aos irmãos” (n.21). O Documento da Igreja leva a castidade consagrada para o interior do mistério da Trindade.
4. Só podemos fazer considerações a respeito do tema da virgindade consagrada partindo da certeza e da convicção que o Senhor nos amou por primeiro: “Cristo me amou e por mim se entregou” (Gl 2,20). Os votos que os religiosos emitem consistem numa resposta de amor ao Amor. “Os votos, com os quais os consagrados se comprometem a viver os conselhos evangélicos, conferem toda a sua radicalidade à resposta de amor. A virgindade dilata o coração à medida do coração de Cristo e faz capaz de amar como Ele amou. A pobreza liberta da escravidão das coisas e necessidades artificiais às quais impele a sociedade de consumo, e faz com que redescubra a Cristo, único tesouro pelo qual vale a pena viver. A obediência põe a vida inteiramente em suas mãos para que ele a realize segundo o desígnio de Deus e dela faça uma verdadeira obra-prima. Torna-se necessária a coragem de um seguimento generoso e alegre” (Partir de Cristo, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, n. 22). Sim, a castidade consagrada só tem sentido quando é resultado de um seguimento generoso e alegre do Senhor. Quem puder compreender, que compreenda.
5. O Documento de Aparecida: “A vida consagrada é um dom do Pai, por meio do Espírito Santo, à sua Igreja, e constitui elemento decisivo para sua missão. Expressa-se na vida monástica, contemplativa e ativa, nos institutos seculares, naqueles que se inserem nas sociedades de vida apostólica e outras formas. É um caminho de especial seguimento de Cristo, para dedicar-se a ele com um coração indiviso e colocar-se, como ele, a serviço de Deus e da humanidade, assumindo a forma de vida que Cristo escolheu para vir a este mundo: vida virginal, pobre e obediente “(n. 216). Os religiosos escolhem para si um estilo de vida como Cristo viveu.
6. A pessoa humana é complexa. Difere das coisas que a cercam e a envolvem. É bem mais do que coisas. Cada ser humano é um mistério. Sente-se ligado ao chão e chamado para as alturas. Há os que na infância ou na idade jovem e adulta descobrem a força de Cristo e o desejo de serem discípulos dele de uma forma mais total. Esse Ressuscitado, aos poucos, vai envolvendo alguns com seu olhar e pede que o sigam com toda radicalidade. Há a inteligência, a vontade, o afeto. O Ressuscitado chama alguém em sua totalidade, também no seu corpo. Esse Deus fascinante e ciumento quer a inteireza, o coração indiviso. Quem puder compreender que compreenda. E, de fato, alguns, sem dramas e sem traumas, prometem viver sua sexualidade humana sem passar pela mediação do amor humano. Desejam estar sempre e em todas as circunstâncias intimamente unidos ao amado e à sua disposição.
7. A sexualidade vai para além da genitalidade. Trata-se de uma sexualidade verdadeiramente humana. Podemos bem compreender que alguns, para estarem mais junto e exclusivamente com o Senhor, sem menosprezar a união de um homem e de uma mulher, compreendam que podem viver já agora na carne aquilo que será a vida futura. Em sua carne antecipam o mundo de amanhã. No plano divino, homem e mulher são feitos um para o outro. Masculino e feminino se encontram, há o envolvimento dos corpos na fidelidade e no respeito, como expressão de uma comunhão de vida. Os religiosos não desprezam da sexualidade, não têm medo dela. Mas, por um chamamento especial, querem que o Senhor os encontrem como estão.
8. De maneira prática, o voto de castidade consagrada faz com que as pessoas vivam como Cristo que não se casou para ocupar-se inteiramente das coisas do Pai e do Reino. Os religiosos se gastam e desgastam pelo Reino, nos países em que vivem ou em terras de missão. Estão livres para irem pelo mundo. Nutrem para com Cristo uma amizade e um amor esponsais.Os religiosos são esposos e esposas do Senhor. A vida de intíma oração com o Senhor é de fundamental importância para que a castidade perfeita seja vivida com alegria e o não uso da sexualidade não seja visto como frustração. Os religiosos experimentam uma grande alegria na fidelidade ao Senhor, sendo completamente e somente dele. Com sua vida anunciam como será o mundo futuro: não haverá mais casamento, as pessoas não mais se darão em casamento, todos serão anjos de Deus.
9. Terminamos estas reflexões com palavras de um Catecismo de Adultos da França: “A sexualidade é uma realidade deste mundo que passa. Homens e mulheres são chamados a descobrir a fonte de todo amor em Deus vivo e eterno, que é totalmente comunhão das pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. No céu, mergulhados na fonte do amor, aos laços humanos mais legítimos serão realizados e, ao mesmo tempo, relativizados (cf. Lc 20,35). Para lembrar isto a todos, o Senhor pede que alguns renunciem ao matrimônio, em nome desse encontro com Deus, amado sobre todas as coisas já nesta terra. É este sentido do celibato consagrado dos leigos, dos religiosos e das religiosas, que a igreja latina pede também dos presbíteros. Com o celibato consagrado eles anunciam o Reino futuro (cf Mt 19, 10-12)”
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