sexta-feira, 8 de outubro de 2010

MISSÃO COMO HORIZONTE UNIVERSAL


O Decreto Conciliar do Vaticano II Ad Gentes, ao tratar da Missão universal, em seu capítulo primeiro, apresenta os princípios doutrinais que dão base bíblica e teológica à Missão, dizendo expressamente: "A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária. Pois ela se origina da Missão do Filho e da Missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus-Pai" (Ad Gentes, 2).
Temos aqui dois elementos fundantes da Missão. Primeiro, a Missão nasce do mistério trinitário do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Portanto, tem a SS. Trindade como princípio, meio e fim. Deus-Pai envia o Filho, na força do Espírito Santo.
Fica claro, pois, que a origem, o método e o fim da Missão é o próprio mistério trinitário. Ao missionário cabe mover-se para dentro do coração misericordioso do Deus-Uno e Trino. A Missão, antes de ser uma atividade, é contemplação e disponibilidade para mergulhar no projeto de Deus. Sendo a Missão um projeto trinitário, o missionário deve ter claro que ele não inventa nada, nem é o protagonista da Missão, somente Deus o é. "Missio Dei": a Missão é de Deus.
A iniciativa de Deus antecipa, acompanha e leva a bom termo toda a vida e atividade missionária. O longo caminho da Missão inclui o diálogo, a intercomunicação, a escuta, a complementariedade, pois este é o dinamismo da vida trinitária. Na comunhão de vida nada é excluído, nada é secundário, tudo se torna vital neste processo complementar.
O segundo elemento a se considerar é a "natureza missionária da Igreja". Ao se falar de "natureza", significa dizer aquilo que faz que uma coisa seja ela mesma, e não outra. Natureza é, pois, o núcleo, a essência. Este princípio tem consequências. Em não sendo missionária, a Igreja perderia sua razão de ser. Não seria a Igreja nascida de Pentecostes, que de imediato abriu-se e saiu do contexto restrito de Jerusalém, projetando-se para o mundo.
Um fato da vida missionária pode iluminar bem o nosso presente e o nosso futuro. Pe. Guillet, missionário da Sociedade das Missões Africanas (Padres Brancos), costumava visitar com frequência os povos Fuldas, do Benin, etnia nômade de pastores, e que, portanto, vive em permanente peregrinação. É um povo islamizado há mais de três séculos. As seguidas visitas do Pe. Guillet levaram o povo a construir-lhe uma cabana no acampamento, como se fosse membro da família.
Um dia, quando o Pe. Guillet chegou lá, disse-lhe um idoso da tribo: "O marabuto (guia espiritual muçulmano) veio visitar-nos, e nós lhe mostramos a sua tenda e lhe dissemos que o senhor vinha aqui muitas vezes. Ele respondeu que vocês, os padres católicos, podem ser os melhores homens do mundo, conhecem a Lei de Moisés, os Salmos de Davi, o Evangelho de Jesus Cristo, e mesmo o Alcorão, mas, infelizmente, recusais Maomé como o grande profeta, e, por isto, não poderão salvar-se. O que o senhor tem a dizer a esse respeito?"
O missionário, depois de refletir um pouco, respondeu. "Sabe, meu senhor, os homens passam o tempo todo construindo muros e estabelecendo fronteiras entre o branco e o negro, entre o Leste e o Oeste, entre pagãos e crentes, entre cristãos e muçulmanos. Protegidos atrás desses muros, julgam e condenam os que estão do outro lado, mesmo sem os verem. Mas, por mais alto que sejam os muros levantados pelos homens, eu sei que esses muros não chegam até Deus, e que Deus nos vê por cima dos muros. E, no seu amor de Pai de todos, Ele, melhor que ninguém, vê os que O amam em espírito e verdade."
A Missão é um pouco o acolhimento deste olhar enamorado do Pai para cada um de seus filhos. Ela é um mistério de amor, e os nossos esquemas e as nossas teologias ficam a uma distância infinita dessa realidade. A Missão é uma mística a recuperar.

"Missão e Partilha" é o tema da Campanha Missionária, para o mês de outubro de 2010.
A Coleta feita no Brasil no Dia Mundial das Missões é destinada ao Fundo Mundial de Solidariedade Missionária para financiar projetos de evangelização em diversas frentes.

Padre Daniel Lagni, diretor Nacional das POM do Brasil

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